EXPURGO 2017
Porto Alegre, Brasil
Curadoria: Paola Zordan
Ficha técnica
Fotografia e filmagem: Cristina Gross
O lixo
Matéria-prima para construção de um corpo
de uma vida
Dele emerge a loucura que também é realidade
Matéria orgânica que se desfaz e refaz e produz sentidos. É mais que humano.
Nascemos sendo o próprio lixo, matéria fecal descartável o qual não temos controle. Excesso, dispêndio.
A sujeira é apenas uma lembrança do que somos.
Em meio ao lixo encontramos os quatro elementos: Terra, Ar, Fogo, Água. Estes se juntam em meio ao monturo de resíduos, restos os quais a humanidade produz e descarta. A barbárie começa em casa.
Junto ao lixo, com o lixo e pelo lixo: vivemos.
Criamos, amamos, gozamos e também morremos. O afeto na metrópole é o lixo chamado de amor. Humano: resíduo fictício da terra. Para conservar a epiderme, dorme e não sonha. Para conservar o corpo, transpôs o pesadelo para o real.
Com a água lavamos a pele e criamos o barro.
O barro que suja, o barro que limpa, o barro que cega, é para o barro que retornaremos (sendo lixo de hoje, amanhã e sempre).
Ali do Espirito Santo e Lucas Reis
Texto curatorial:
Terra, Géia, Gaia: corpo de muitas manifestações e formas de vida, do qual todos fazemos parte. Na plasticidade desse grande corpo, animais, vegetais, fungos e microrganismos se misturam aos corpos minerais e outros elementos moleculares, constituindo uma composição planetária plural. O que se compõem como geoplástica conecta criações humanas e naturais que articulam poéticas visuais e ações de regeneração e preservação ambiental. Para expor a intricada relação entre diversos tipos de seres, corpos naturais, construções, substratos e atmosferas, partimos das três ecologias implicadas no saber territorial. Essas ecologias Félix Guattari elabora em termos de meio ambiente, relações sociais e subjetividade humana, nomeando essa articulação de ecosofia. No pensamento ecosófico o logos, conhecimento estruturado, dá lugar à sofia, saber aberto que acumula as multiplicidades subjetivas, socio-culturais e ambientais. Porém, em nossas pesquisas transdisciplinares, que expressam diversas nuances da criação artística, demarcações territoriais são extrapoladas. Não havendo mais espaços demarcados trocamos o prefixo “eco”, derivado de óikos, por pan, tudo, criando uma pansofia. Um pensar pansófico não separa ética, estética e política quando mostra o quanto todas as instâncias do pensamento e dos corpos se afetam entre si. Projetos de intervenção permacultural estão permeados de plasticidade, a preservação do meio-ambiente depende da economia doméstica, a saúde do planeta envolve educar para um sistema produtivo cujo o uso sustentável da natureza maneja a Terra respeitando o corpo vivo e todos os corpos num só que esta é. O que se compõem pluralmente também se faz singular.
Paola Zordan, Maio de 2017. Porto Alegre